Conheça o projeto “Biomassa: etanol de segunda geração”, do Departamento de Engenharia Química da UFRN

Notícia publicada em 3/02/2014Tecnologia

Por Auristela Oliveira

Em tempos de mudanças climáticas, a produção de combustíveis limpos se torna uma preocupação no mundo todo, visando contribuir com o cumprimento das metas estabelecidas nos acordos diplomáticos internacionais, como o Protocolo de Montreal (1987), Kyoto (1994) e Copenhagen (2009). Neste contexto, o Grupo de Pesquisa de Engenharia Bioquímica (Bioprocessos), do Departamento de Engenharia Química (DEQ), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolve o projeto “Biomassa: etanol de segunda geração”, que estuda o aproveitamento de resíduos agroindustriais ou lignocelulósicos como matéria-prima para a produção do Etanol de Segunda Geração ou Etanol Celulósico, ou mais conhecido como Etanol 2G.

Imagem de: Anastácia Vaz

DEQ1A

 

Criado em 2008, o Bioprocessos tem como coordenadores os professores, Gorete Ribeiro Macedo e Everaldo Silvino da Silva, que estudam os processos de pré-tratamentos até a produção do Etanol 2G. O trabalho tem a colaboração de estudantes de mestrado, doutorado e de iniciação científica do Curso de Engenharia Química da UFRN e recebe financiamento do CNPq. Os professores também participam, em nível de colaboração, de duas redes de pesquisa sobre a produção de Etanol 2G.

A professora Gorete Macedo ressalta que a cadeia de estudos é complexa, de modo que cada um dos participantes do grupo se debruça sobre uma parte do processo. Os resultados obtidos nas pesquisas são promissores, com indicativos de bom rendimento de todos os materiais em fermentação.

Em paralelo às pesquisas, os alunos que participam do projeto desenvolvem trabalhos científicos sobre o tema, como teses e dissertações. Atualmente, seis alunos, sendo três de doutorado, um de mestrado e dois de iniciação científica, colaboram nos estudos  sobre as diferentes estratégias de pré-tratamento dos resíduos do coco e da cana-de-açúcar, materiais viáveis à produção do biocombustivel.

Sobre a participação de discentes a professora comenta: “Os alunos estão envolvidos e empolgados com o projeto. Já formamos muitos profissionais para o mercado, dentre esses um doutor e um mestre”.

Pioneirismo na UFRN

Foto de: Wallacy Medeiros

Gorete Macedo

Segundo a professora Gorete Macedo, tanto no Brasil como no mundo existem diversas pesquisas sendo desenvolvidas sobre o etanol, porém a UFRN é pioneira no estudo do aproveitamento dos resíduos do coco maduro e seco. O Etanol de Segunda Geração, explica ela, é produzido a partir de resíduos encontrados no bagaço e na casca do coco verde e seco, na palha e no bagaço da cana-de-açúcar. “Esses resíduos são compostos por celulose, hemicelulose e lignina, polímeros que contém açúcar, mas não tão acessível como no amido de milho, no melaço e no caldo de cana-de-açúcar, por isso que em laboratório estudamos os pré-tratamentos para a obtenção do etanol 2G”.

No Laboratório de Engenharia Bioquímica (LEB), os alunos estudam as fases de pré-tratamentos que são tratamento e hidrólise, a fim de extrair o açúcar presente nos matérias, para torná-los acessíveis ao processo de fermentação alcoólica, com a inserção de microorganismos, de modo a tornar viável a produção do etanol.

A professora acrescenta que a produção do etanol 2G ainda não é um processo barato. No Brasil, a primeira usina entrará em funcionamento em março de 2014, operada pela GranBio, com tecnologia não brasileira, mas as pesquisas seguem em ritmo acelerado e com resultados muito bons: “Não está longe de termos a segunda usina operando com tecnologia brasileira e nós da UFRN também estaremos assinando essa conquista”.

Defesa do meio ambiente

O Brasil é um grande produtor do melaço e do caldo de cana-de-açúcar, desde a década de 70. Os Estados Unidos, por sua vez, é um grande produtor de amido de milho. A coordenadora do Bioprocessos comenta que a produção de etanol, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, em algum momento pode vir a competir com áreas agriculturáveis. Sobre essa possibilidade, ela diz reconhecer a importância de produzir o etanol, mas defende a busca de alternativas, que não venham a competir com a produção de alimentos e que não gerem problemas ambientais.

Segundo os resultados obtidos pelo grupo de pesquisa, no Nordeste, em especial no Rio Grande do Norte, o descarte dos cocos verdes vazios se tornou um problema para os aterros sanitários, pois a agroindústria do coco verde gera em torno de 53 toneladas por dia de resíduos. Igualmente, as indústrias de beneficiamento do coco maduro para obtenção de produtos alimentícios e o aumento do consumo de água de coco e in natura no verão, geram grande quantidade de resíduos tornando maior a poluição ambiental.

No caso da cana de açúcar, as usinas aproveitam parte do bagaço, 40% do que é produzido no Brasil, para a produção de vapor, para operar as caldeiras e para a produção de eletricidade. Os 60% restantes, equivalem a 4 bilhões e 700 mil toneladas/ano, se configuram num problema ambiental.

A produção do Etanol 2G apareceu como uma alternativa tanto para aproveitamento dos resíduos do coco, que tem como destino os aterros sanitários, como da cana-de-açúcar. O etanol extraído a partir de resíduos do coco tem como objetivo não interferir nas áreas agricultáveis, destinadas à produção de alimentos. Já a produção do etanol a partir da cana-de-açúcar apresenta ótimo custo benefício.

O Laboratório de Engenharia Bioquímica (LEB) dispõe de uma página do Facebook (www.facebook.com/LaboratorioDe EngenhariaBioquimicaLeb), onde os interessados podem acompanhar os eventos e projetos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Bioprocessos da UFRN.

Foto de: Wallacy Medeiros

Equipe

Fonte: AGECOM – Boletim Especial da UFRN – Ano IV – Número 5 – Natal/RN, quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

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