Estudante do CT recebe pré-convocação para seleção brasileira de bocha paralímpica

Notícia publicada em 25/11/2022Gerais
Aryela Souza de CT/UFRN

Jéssika é aluna do 2º período de Arquitetura e Urbanismo da UFRN e uma das maiores referências paralímpicas do Rio Grande do Norte. Foto: Aryela Souza

 

Jéssika Azevedo da Silva, aluna do 2º período da graduação em Arquitetura e Urbanismo, já é, com apenas 19 anos, uma das maiores referências paralímpicas do Rio Grande do Norte. Recentemente, a atleta conquistou a pré-convocação para participar da seleção brasileira de bocha na 5ª edição dos Jogos Parapan-Americanos da Juventude, que acontecerá em junho de 2023 na Colômbia. Atualmente, Jéssika ocupa a 5ª posição no ranking brasileiro na categoria BC3 feminina.

A estudante iniciou sua carreira paralímpica ainda na infância, entre os 11 e 12 anos, em 2015, de uma maneira inusitada. Ao ser abordada por uma professora do  Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) no shopping, foi questionada sobre já ter ouvido falar da bocha ou já ter participado de alguma competição. Quando admitiu não ter o menor conhecimento sobre o assunto, recebeu um convite para visitar a Associação Paradesportiva do Rio Grande do Norte (APARN), uma entidade civil sem fins lucrativos dedicada à bocha paralímpica que atende a pessoas com deficiências severas como paralisias cerebrais e distrofias musculares, incentivando-as por meio do esporte.

Assim, após a equipe responsável pela APARN constatar que possuía características distintas e difíceis de encontrar que formavam o perfil ideal para praticar a modalidade, Jéssika logo foi introduzida ao esporte, participando de diversas competições em nível nacional desde então.

Os atletas que praticam a bocha paralímpica apresentam um elevado grau de paralisia cerebral ou deficiências severas, causando um comprometimento maior dos membros motores em alguns casos. De origem italiana e adaptado para pessoas com deficiência, o esporte consiste em lançar bolas azuis ou vermelhas em direção a uma outra branca, a jack, todas de peso semelhante (280 gramas). Para pontuar, é necessário deixar a bola colorida mais próxima da branca do que o oponente. Vence quem tiver mais pontos ao final das quatro rodadas.

A bocha pode ser disputada individualmente, em pares ou em equipes e é dividida em quatro categorias, de acordo com o grau da deficiência e da necessidade de auxílio. A BC1 (possibilidade de estabilização ou ajuste da cadeira e entrega da bola, se for requisitada) e a BC3 (para deficiências muito severas, com uso de instrumento auxiliar ou de uma segunda pessoa) permitem assistência enquanto a BC2 e a BC4 (também para deficiências severas) não.

Jéssika foi diagnosticada com atrofia muscular espinhal (AME) algum tempo após o nascimento, uma doença genética rara, progressiva e degenerativa que afeta a musculatura e a capacidade de exercer funções básicas, como sentar, andar e em alguns casos, até respirar. Em virtude disso, compete na categoria BC3, pois necessita da assistência de um ajudante, o calheiro, função exercida pelo pai, Josenildo Agostinho da Silva, que a acompanha nas competições escolares desde o início de sua carreira até hoje, com seus recém-completados 20 anos de idade.

Em setembro, a atleta participou da competição mais decisiva do ano, o Campeonato Brasileiro de Bocha Paralímpica, em Uberlândia (MG). Promovido pela Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande), o torneio é dividido em duas etapas: uma que consiste em decidir os três melhores de cada categoria e depois outra para um processo de seleção final. Na primeira etapa, Jéssika conseguiu o quinto lugar que a proporcionou sua colocação atual no ranking nacional. Já na segunda, seu desempenho foi ainda melhor, resultando na conquista de uma medalha de prata.

Ranking final do Campeonato Brasileiro de Bocha Paralímpica 2022 Categoria BC3 Feminina

 

No mês seguinte, compareceu às Paralimpíadas Universitárias, em João Pessoa (PB), que receberam estudantes com deficiências físicas, visuais e intelectuais de Universidades das 27 unidades federativas do país, além de alunos de Universidades estrangeiras. Nesta competição, Jéssika recebeu uma medalha de ouro, sua segunda neste ano. Anteriormente, já tinha alcançado o primeiro lugar na Copa Brasil de Jovens de Bocha Paralímpica, em São Paulo (SP).

Contudo, a estudante revela que nem sempre obteve vitórias com facilidade. Ao refletir sobre o início da carreira, relembra dificuldades nas primeiras competições mas sente-se realizada por não ter permitido que um resultado insatisfatório a desestimulasse. Pelo contrário, Jéssika passou a treinar toda semana, esforçando-se até que, aos 14 anos, conquistou o primeiro pódio. Portanto, conseguir uma colocação no ranking nacional não é apenas uma surpresa, mas um incentivo para seguir com o esporte. “Ter esse destaque é uma felicidade muito grande,” conta.

A pré-convocação para os Jogos Parapan-Americanos da Juventude surge como uma oportunidade única, já que será a primeira competição internacional em que a atleta participa, mas traz a tona obstáculos que têm dificultado os treinamentos, como a falta de um local apropriado para a prática do esporte e a escassez de recursos financeiros.

Atualmente, a UFRN cedeu um espaço de treino para a APARN, o que permite que os atletas possam treinar ao menos três vezes por semana. Porém, Jéssika e sua equipe precisam de novos materiais, visto que os que possuem no momento não são aceitos em competições no exterior. As bolas mais indicadas são de origem coreana e cada uma custa cerca de 70 dólares. Assim, o kit completo ficaria em torno de R$ 4.818, sem as taxas de frete e os impostos.

Para participar da competição na Colômbia, Jéssika Azevedo está fazendo uma rifa de R$ 4 mil em seu Instagram, aceitando qualquer valor, e conta com a ajuda de todos que puderem doar. Por enquanto, a atleta pretende continuar focada nos treinos e na graduação em Arquitetura e Urbanismo, em busca de mais vitórias para o Rio Grande do Norte e o Brasil.

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